quinta-feira, 21 de novembro de 2013

SOBRE A BUSCA DE DEUS, DA FELICIDADE, E, DO PRAZER


Como relacionar a busca de Deus com a busca da felicidade e do prazer? Comumente, achamos que a busca de Deus opõe-se, ou no mínimo, não implica na busca do prazer. A busca de Deus é associada com a prática de atos piedosos, nem sempre vistos como prazerosos, pelo menos para quem não os pratica. Ao contrário, o prazer é quase sempre identificado com a diversão, a conquista de poder e de prosperidade - medida pelo acúmulo de bens materiais - a realização de um bom casamento e ter uma família saudável, etc. E, assim na maior parte do tempo passamos a vida correndo atrás do prazer, e, alguns, com o coração dividido  com a busca simultânea de Deus, não raro, reduzida a uma expressão distorcida de religião que assegure uma vida melhor mas, futura. É possível mesmo observar-se o semblante mais carregado de alguns religiosos, curvados, quem sabe, sob o peso da cruz que têm de carregar, e, que se traduz, muitas vezes, pela renúncia dos prazeres deste mundo então corrompido.
De forma aproximada podemos identificar três atitudes paradigmáticas em relação ao assunto: os pessimistas (ou acomodados) para quem a existência é um erro, e que não vale a pena mesmo buscar corrigir seu curso natural; os que buscam desesperadamente obter o maior prazer possível das circunstâncias, e que ensejou o hedonismo (uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer, o supremo bem da vida humana, e, que no Iluminismo passa a designar uma atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres momentâneos); e, os santos que descobriram um prazer imenso na busca de Deus.
Citações de como alguns eruditos pensaram sobre essa questão nos permitem ir além do senso comum:
Blaise Pascal (1623 1662) foi um físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês. Pascal escreveu: Todas as pessoas buscam a felicidade. Não há exceção para isso. Sejam quais forem os meios diferentes que empreguem, todos objetivam esse alvo. A vontade nunca dará o último passo em outra direção. Esse é o motivo de cada ação de todo ser humano.
O homem já teve a verdadeira felicidade, da qual agora resta nele apenas o sinal e o espaço vazio, que ele tenta em vão preencher com as coisas ao seu redor, procurando em coisas ausentes a ajuda que não obtém nas coisas presentes. Essas, porém, são todas incapazes, porque o abismo infinito pode ser preenchido somente por um objeto infinito e imutável, ou seja, apenas pelo próprio Deus.
C.S. Lewis ( 1898   1963), foi um professor universitário, teólogo, poeta e escritor britânico, nascido na Irlanda. Destacou-se pelo seu trabalho acadêmico sobre literatura medieval e pela apologética cristã que desenvolveu através de várias obras e palestras. É igualmente conhecido por ser o autor da famosa série As Crônicas de Nárnia. “No que lhe dizia respeito, buscar a própria felicidade não era pecado; é um traço comum da natureza humana. É uma lei do coração humano, assim como a gravidade é uma lei da natureza. Se hoje a noção de que é errado desejar a nossa felicidade e esperar ansiosamente gozá-la esconde-se na maioria das mentes, afirmo que ela surgiu em Kant ou nos estóicos, mas não na fé cristã. Na realidade, se considerarmos as promessas pouco modestas de galardão e a espantosa natureza da recompensas prometidas nos Evangelhos, diríamos que nosso Senhor considera nossos desejos não demasiadamente grandes, mas demasiadamente pequenos. Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria infinita que se nos oferece... Contentamo-nos com muito pouco”.
John Piper (1946) que é na atualidade, um dos mais influentes pregadores batistas calvinistas e autores do século XXI. Em seu livro “Teologia da Alegria”, republicado com o titulo “Em busca de Deus”, descreve a busca do maior prazer possível, que é “o prazer cristão, uma filosofia de vida baseada nas cinco convicções seguintes:
- o anseio por ser feliz é uma experiência humana universal, e é algo bom, não pecaminoso;
- jamais devemos tentar negar ou resistir ao nosso anseio por ser felizes, como se isso fosse um impulso mau. Pelo contrário, devemos tentar intensificar esse anseio e alimentá-lo com tudo que proveja a satisfação mais profunda e permanente;
- a felicidade mais profunda e permanente encontra-se apenas em Deus. Não com origem em Deus, mas em Deus;
- a felicidade que encontramos em Deus atinge sua consumação quando compartilhada com outros nos multiformes caminhos do amor;
- na mesma medida em que tentamos abandonar a busca do prazer próprio, deixamos de honrar a Deus e de amar as pessoas. Ou, para usar termos afirmativos: a busca do prazer é parte necessária de toda adoração e virtude.
Ou seja, o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus ao gozá-lo plena e eternamente.”
E completo com o pensamento do eminente rabino Joshua Heschel ( 1907-1972) que descreve o fim desta busca de Deus, nos seguintes termos superlativos:  “a percepção da grandiosidade”, “o sentido do inefável”, “o deslumbramento”, “o sentido do mistério”, “o temor reverencial”, “a reverência e a adoração”, “a intuição, a fé, o acontecimento”. Creio ser este um bom termômetro da verdadeira busca de Deus, e que se traduz também na maior felicidade, e no mais pleno prazer.

Fonte: “Em busca de Deus”, de John Piper

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